O Design Português capaz de potênciar a marca Portugal
Nota Prévia: " Aliando o facto da minha formação em design de comunicação, que é uma paixão e principal actividade, ao ter que gerir um atelier de design, o grande calcanhar de Aquiles do designer; ao conhecimento adquirido do que deverá ser o perfil do futuro designer português; ao estar ligado ao ensino nos últimos dez anos; e ao ser membro da direcção da APD - Associação Portuguesa de Designers desde 2005, permite-me ver e conciliar todas estas questões por um prisma relacionado mais com o "sujeito criador" do que com o "sujeito criado".Optei, por tudo isto, direccionar as questões para um carácter mais abrangente, no que refere ao posicionamento do design, mas essencialmente ao papel do designer."
1- Como vê o panorama actual do Design em Portugal?
Sinceramente, com saúde. Considero que definitivamente, se está a tomar consciência do verdadeiro papel do design (e do designer) na sociedade. Já lá vai o tempo em que éramos vistos como um género de "artistas" que fazem uns "desenhos giros".Talvez, resultado de uma evidente conjuntura económica enfraquecida, quer a nível nacional quer internacional, o design acabou de ganhar um novo fôlego e, até mesmo, amadurecer. É um facto que fomos os primeiros a sentir a crise. Foi na nossa área que se fizeram os primeiros cortes nos orçamentos. Mas também considero termos sido os primeiros a sentir alguma retoma, o que nos permitiu aprender e reflectir sobre alguns aspectos:Abanou um pouco a classe; varreu o que, se calhar, estava a mais e obrigou-nos a ser mais profissionais e competentes. Obrigou-nos a pensar o projecto/design do princípio ao fim, como parte integrante de uma equipa onde estamos sentados ao lado do cliente e não à sua frente.O cliente, ao investir, quer fazê-lo com garantias, tornando os projectos mais interessantes e torna-nos (aos seus olhos) mais importantes. Se pensarmos, não nos casos dos projectos de sucesso mais mediáticos, e nos focarmos no que será a grande percentagem de projectos realizados pelos designers portugueses, em Portugal, que são aqueles projectos para pequenas e médias empresas, companhias de teatro, escolas de dança, serviços, comércio, etc, todos eles com escassos recursos e, por vezes, pouco conhecedores do que seremos capazes, podemos constatar que temos capacidade de fazer muito com pouco e que somos um contributo válido e reconhecido para encarar tudo de um modo mais positivo e sustentado. O ano de 2008 será, sem dúvida, o ano da afirmação do designer em Portugal. Se o design português já deu provas, também o designer português começa a ter ferramentas para se impor como um profissional. Todo o trabalho conseguido pela APD - Associação Portuguesa de Designers, para o reconhecimento da profissão - o código da tabela IRS, a colaboração na atribuição do CAE, entre outras "conquistas" perante o Estado e a sociedade civil e a própria integração, por parte do Governo, do "design Português" como algo capaz de potenciar a marca PORTUGAL, são provas de um irreversível reconhecimento da profissão e dos seus profissionais.
2- Relativamente ao desenvolvimento do Design noutros países quais pensa serem as tendências ou exemplos de onde poderemos retirar alguns ensinamentos?
Temos muito a aprender... aliás, estamos (e temos) sempre a aprender, na aldeia global em que vivemos; temos que procurar em outros lugares não só referências ao nível do que se faz no design, mas essencialmente o que se faz pelo design.Por vezes, sinto que nós próprios somos o grande inimigo dos designers; a dificuldade que vejo em encontrar alguém para trocar experiências, para falar de design em tertúlias de café, a pequena questão sobre um orçamento, etc., questões que todos gostariam de saber mas não de partilhar. Temos que tornar tudo isto mais aberto; só assim a evolução será um facto.Temos matéria humana capaz e competente para saber interpretar tendências, influências e conseguir adaptá-las à nossa realidade. Temos que saber conquistar um lugar sem ter que o impor.
3- Considera existirem segmentos ou nichos de mercado que poderão ser melhor abordados e trabalhados pelo Design?
Sim, todos.Há que pensar em estar constantemente a melhorar e a evoluir. Existe margem e espaço para potenciar todas as áreas. Claro que existem algumas menos exploradas. No entanto, e fugindo ao que estamos habituados a ver como a competência do designer, existem áreas que podem complementar bem todo este processo e que ainda não tiveram a devida atenção e com um enorme potencial.Refiro-me à gestão do design e do designer - envolver profissionalmente o designer em áreas que não considera estarem directamente relacionadas com o seu trabalho. A parte de gestão (a todos os níveis) é de uma importância extrema , para que todo o projecto seja desenvolvido sem que, em alguma das suas fases, as surpresas orçamentais (por exemplo) surjam. Outra função que considero, também de extrema importância e onde o conceito de design deve estar enraizado é a metodologia/planificação do design e do designer. Garantir que todo o projecto seja desenvolvido de acordo com um planeamento definido, não só no que refere à sua variável conceptual, mas também na sua variável organizacional de trabalho.
4- Nesses casos, e em geral, qual pensa ser a melhor forma de transmitir a importância da intervenção do Design como elemento diferenciador e fundamental para a aquisição de vantagens competitivas?
Sem me querer repetir, tento sempre nestes 15 anos que já tenho como designer e professor, transmitir e resumir o conceito de design à tarefa mais básica do quotidiano. Só assim, podemo-nos aproximar do cliente usando uma linguagem que ele entenda. Estar com ele do mesmo modo como estamos com o nosso médico de confiança. Entender os seus sintomas, reflectir usando o nosso know-how e prescrever a solução que o vai ajudar a resolver o "problema".Tudo isto passa por, primeiro, o designer se conseguir ver a ele próprio como um profissional integrado numa actividade/equipe multidisciplinar. Depois, que saiba ouvir o cliente e conseguir fazê-lo sentir-se seguro e apoiado por nós. Por último, partilhar com todos, os resultados e todas as fases de desenvolvimento do projecto. Será, deste modo, que se garantirá um complemento ao "projecto materializado" sustentando o design, no seu conceito mais amplo, mas também mais específico, como elemento diferenciador e fundamental.
5- O que tem feito a sua empresa para responder às necessidades do mercado e que ferramentas tem utilizado para se actualizar?
Duas coisas.Uma, para dentro, transmitir e estimular entre todos, o reconhecer do assumir a paixão que é esta actividade. Ter presente e procurar transportar, desde o início ao fim do projecto, o conceito mais elementar do design - forma adequada à função.Outra, para fora, envolver todas as partes no projecto, designers, fornecedores, produção, fotógrafos, e logicamente, o cliente. Todos, no seu lugar, têm que sentir a sua importância/ contributo e ver reconhecido o seu papel para o resultado final. No fundo, sendo fácil o acesso a toda a tecnologia e aos recursos materiais necessários para desenvolver capazmente um projecto, todo o "investimento" deverá ser feito na procura de conhecer e gerir a relação humana. Não podemos nunca esquecer que a nossa actividade vive essencialmente da nossa capacidade criativa, de a saber comunicar e, obviamente, de a saber pôr a comunicar
6- Nos projectos que tem desenvolvido tem recorrido à utilização de estruturas modulares? Se não, porquê? Se sim, quais pensa terem sido os principais benefícios que colheu?
Directamente, não. Sendo a minha área o design de comunicação, poucos projectos aparecem em que tenhamos necessidade/possibilidade de recorrer a esse tipo de soluções. No entanto, estive envolvido em projectos conjuntos em que foram usadas e que, pelo seu carácter, permitiram uma óptima integração com variados produtos e suportes gráficos.
Miguel Neiva, Designer de Comunicação - 07/01/2008